Capítulo 02.2
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Hunters Scan
Capítulo 2.2: Fantasmagoria
Tradutor: Kenny
Revisor: Sushine
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Do outro lado do céu, ou melhor, do vazio, do espaço que só poderia ser descrito como nada.
Ele viu um flash de luz e um ponto.
No momento em que viu, ele sabia que aquilo atravessaria sua cabeça.
Enkrid fechou os olhos.
Quantas pessoas ficaram indiferentes no momento da morte?
Enkrid não foi exceção.
Assim que fechou os olhos, sua vida passada, assim como o sonho que teve ontem, passou diante de seus olhos.
O tempo pareceu desacelerar.
O ruido do campo de batalha foi apagado e até sua respiração ficou mais lenta.
Tuk, Tak!
A sensação logo passou. O flashback desapareceu e os sons do campo de batalha retornaram. Ele percebeu que estava respirando normalmente de novo.
“Você está oferecendo uma oração de agradecimento por eu ter salvado você?”
Foi um de seus subordinados.
Um dos membros de seu esquadrão.
Ele havia empurrado Enkrid para o lado, e a flecha cravou no chão.
“Rem.”
Enkrid chamou seu nome.
“Dizem que um bastardo com olhos e penas de águia entrou nesta batalha, então tome cuidado com as flechas.”
“Não é possível ser atingido mesmo se você tomar cuidado?”
“Vou dar um jeito nele, apenas espere um pouco.”
Esse garoto era realmente louco de uma forma refrescante.
Enkrid pensou isso, e então assentiu.
“Bem, não é como se você estivesse desistindo da vida ou algo assim, certo? Você até faltou ao treino e tirou uma soneca hoje.”
Rem disse.
“Não é da tua conta.”
“Só estou dizendo que eu ficaria chateado se eu tivesse salvado alguém que queria morrer.”
“Porra, quem quer morrer?”
Viver no fio da navalha não era o mesmo que ser suicida.
“É porque você geralmente é um bom lutador, mas em um momento crucial você fechou os olhos.”
“Você acha que eu os fechei de propósito?”
Ele, por algum motivo, sentiu como se já tivesse tido essa conversa antes.
Rem segurava um machado na mão direita e uma lança quebrada na esquerda.
Bem, ele era habilidoso o suficiente para empunhar uma espada, um machado ou qualquer outra arma contundente.
Ele ergueu a mão direita, que segurava o machado, e coçou a cabeça com o polegar.
No entanto, não parecia legal.
Afinal, ele estava coçando apenas a parte superior do capacete.
“Droga, esse capacete cheira a merda.”
“Eu não poderia concordar mais.”
“Se você sente que vai morrer, precisa se focar mais.”
Rem disse.
Era um ditado comum e Enkrid sabia exatamente o que essas palavras significavam.
Rem costumava dizer isso com frequência.
Que, naquele momento em que alguém está prestes a morrer, quando sua vida passa diante deles, eles serão capazes de realizar proezas de nível sobre-humano. Era preciso ser capaz de utilizar esses momentos nos combates.
Como se isso fosse fácil assim.
Era preciso ter talento.
Para conseguir abrir os olhos, olhar nos olhos do oponente e fazer o que precisa ser feito naquele momento de vida ou morte.
“Foco que se dane.”
Enkrid disse.
“Bem, suponho que você poderia aprender a fazer isso depois de morrer cem vezes, mas você só tem uma vida. Te vejo depois então.”
Rem riu e saiu trotando, correndo de volta para o campo de batalha.
Ele era um lutador muito bom.
Enkrid então também voltou sua atenção para a batalha.
Continuar lutando ao lado dos soldados aliados. Ele apenas tinha que continuar fazendo isso.
Erkid golpeou com sua espada para frente.
Se tivesse sorte, seu oponente seria perfurado, caso tivesse azar, ele iria desviar.
Era tudo ou nada
Clang-
Seu golpe atingiu o inimigo.
A ponta de sua lâmina foi incapaz de perfurar a armadura de seu oponente, e ao invés disso, o empurrou para trás como uma arma contundente.
“Ugh.”
O oponente gemeu e tropeçou para trás, e o martelo de batalha de um aliado que passava acertou seu crânio.
Clang-
Ele limpou sua mente de qualquer distração.
Seus nervos queimavam enquanto ele defendia, se esquivava e brandia a espada contra as lâminas, lanças e porretes que voavam à sua frente.
Incomodado pela falta de escudo, ele pegou um machado do chão e o usou como escudo.
Ele continuou lutando, bloqueando, golpeando e cortando, cercado pelos aliados. Sempre que via uma abertura, ele exibia a desajeitada esgrima que havia aprendido.
Avançando com o pé esquerdo, mudando o centro de gravidade, mantendo a ponta da espada reta sem perder a força dos braços.
Ele deu mais um golpe…
Com a quantidade certa de tensão muscular, concentração e percepção para aproveitar o momento, ele poderia ter conseguido.
Ting, rangiiiiiiiido!
O ataque de Enkrid teve apenas meio sucesso.
“Ouch.”
Ele mirou no espaço entre o capacete e o peitoral de seu oponente, mas seu oponente desviou e o ataque errou.
Ele havia deixado um longo corte no pescoço do oponente, mas não foi um ferimento fatal.
O inimigo ensanguentado voltou seus olhos cheios de ódio para Enkrid.
Era um olhar cheio de veneno. Ele cerrou os dentes em um grunhido silencioso.
‘Perigo.’
Seu Sentido de Batalha disse.
Quando Enkrid recuou, um soldado aliado preencheu a lacuna.
O inimigo se agachou silenciosamente e deu um soco na canela do aliado que bloqueava seu caminho, enquanto segurava uma faca em seu punho.
Crack.
Enkrid ouviu o som de ossos quebrando.
“Keugh!”
Quando o soldado com a canela quebrada caiu, o soldado inimigo sacou sua adaga e esfaqueou o aliado no pescoço.
Ele esfaqueou e recuou suavemente, como se fosse uma cena ambientada em uma peça.
O sangue jorrou, encharcando o peitoral do homem.
Ele empurrou o soldado morto para longe.
‘Ah.’
A Fantasmagoria.
Era a linha entre a vida e a morte.
Além das lanternas brilhantes, inúmeras imagens brilhavam pela sala, imagens da vida de Enkrid.
Como o sonho que ele teve na noite passada.
No final daquela vida, no momento em que tudo passou, a lâmina do oponente perfurou o pescoço de Enkrid.
Foi a mesma facada que ele viu sendo demonstrada momentos atrás.
Foi uma facada perfeita. Pelo menos foi o que pareceu para Enkrid.
Uma dor lancinante disparou do pescoço por todo o corpo.
Ao enfrentar esse momento de vida ou morte, Enkrid percebeu o que Rem queria dizer com alcançar a concentração.
Só que já era tarde demais.
‘Então eu tenho que morrer para aprender?’
Enkrid pensou enquanto amaldiçoava Rem e fechava os olhos.
Não, sua mente começou a divagar.
Havia uma ânsia, uma necessidade, um desejo.
‘Eu queria ser bom com a espada.’
‘Eu queria ser um cavaleiro.’
‘Eu queria ser um herói.’
No final, Enkrid, que não pode se tornar nada disso, deveria ter ganho dinheiro suficiente para se estabelecer numa cidade decente, construir uma casa e viver lá.
Mas ele não fez isso. Ele não poderia.
A paixão em seu coração não o deixou.
Até o fim, ele gastou todo o dinheiro que ganhou no campo de batalha, em aulas particulares.
‘Eu poderia ter feito melhor.’
‘Se eu tivesse mais tempo.’
Houve um tempo em que ele pensava que deveria treinar mais, enquanto as chamadas crianças superdotadas ou talentosas brincavam.
No final da fantasmagoria, apareceu o rosto daquela velhinha, a pessoa que ele salvou pela primeira e última vez na vida usando suas próprias forças.
“O amuleto se moverá de acordo com a vontade do cavaleiro.”
Foi a chefe daquela aldeia queimada e destruída quem lhe presenteou com o amuleto.
Tinha alguns dentes da frente faltando na pobre velhinha, o que fazia com que se pudesse ouvir um assobio sempre que ela falava.
Uma emoção que Enkrid nunca havia sentido antes encheu seu coração, uma mistura de arrependimento e saudade.
Arrependimento.
‘Será que mais alguns golpes da minha espada teriam feito alguma diferença?’
Os dois caracteres da palavra “Morte” envolveram seu corpo. Além dos olhos fechados, ele viu um rio escuro.
Enkrid lamentou ter tirado uma soneca hoje em vez de brandir a espada.
Talvez se ele tivesse ficado acordado um pouco mais, seu último ataque poderia ter funcionado.
Um barqueiro sem rosto estava sentado em um barco a remo no rio negro.
O barqueiro perguntou.
“Você acha mesmo?”
Hmm?
“Você é um homem engraçado.”
O que?
“Então vamos fazer assim.”
O barqueiro sem boca falou. Não tinha como saber de onde vinha sua voz. A área ao redor de sua boca estava escura, como se ele estivesse usando uma máscara preta.
Enkrid não conseguiu dizer nenhuma palavra.
Ele simplesmente desmaiou e então se viu abrindo os olhos novamente.
Clang, clang,clang.
Era o som de um guarda de plantão batendo em algo metálico.
Mais precisamente, foi o som de uma concha batendo numa panela.
O mesmo som familiar que o acordou naquela manhã.
“…”
Enkrid olhou para o lado sem falar.
“Você teve um sonho de merda ou algo assim?”
O homem no beliche ao lado, Rem, resmungou enquanto se levantava da cama e calçava as botas.
“Ah, tem uma barata.”
Uma barata em suas botas.
Enkrid piscou.
Uma série de eventos reais demais para serem chamados de sonho passou por sua mente.
“Que nojo.”
Rem cuspiu na barataque havia sacudido e esmagou-o com o pé.
Um rastro de fluidos corporais da barata e cuspe foi deixado no chão.
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