Capítulo 01
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Hunters Scan
Capítulo 1: Meu sonho era ser um cavaleiro. (Prólogo)
Tradutor: Kenny
Revisor: Sushine
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Houve um clarão de luz.
Enkrid não fazia ideia do que estava acontecendo.
Tudo que ele sabia era que tinha uma dor ardente e latejante em sua garganta.
Ele percebeu que sua armadura de couro era inútil naquele momento.
Ele desmaiou, vomitando um líquido vermelho e quente sobre seu corpo.
E então, ele abriu seus olhos novamente.
Era o começo de um novo dia.
E isso não era um sonho.
Isso aconteceu muitas vezes antes.
Ele nem mesmo sabe por que isso aconteceu.
Apenas aconteceu.
Clang-
O som de um guarda de plantão batendo com uma concha em uma panela anunciava o início da manhã.
Essa era a mesma manhã, sendo repetida pela terceira vez.
Foi então que Enkrid finalmente percebeu.
‘De novo?’
Todo dia era a mesma coisa. Ele morreria, e então repetiria o mesmo dia de novo.
Capítulo 1: Meu sonho era ser um cavaleiro.
O professor que ensinou Enkrid a usar uma espada era um homem bem-humorado que nunca falou mal de ninguém.
“Você.”
Seu professor se inclinou, com sua espada na bainha perpendicular ao chão, e então falou para Enkrid.
“Volte para a vila. Se você não gosta de cultivar, você pode entrar para a milícia. Pode até se tornar um Capitão da Milícia.”
Se ele tivesse escutado o conselho de seu professor, que tinha uma boa intuição, as coisas poderiam ter sido melhores.
Mas ele não escutou.
Uma única frase que ele escutou quando era mais jovem que era o problema.
“Enki, você é um gênio.”
Ele tinha lutado com um vizinho três ou quatro anos mais velho que ele com uma espada de madeira, e ganhou com facilidade.
Naquela época, ele tinha 11 anos, e essa foi a primeira vez que ele tinha sido chamado de gênio.
Ele não sabia na época que aquele bastardo era incrivelmente ruim em lutas de espadas.
Aos quinze anos, Enkrid lutou contra um ancião da vila com uma espada de madeira e ganhou.
Depois disso, ele ficou confiante em suas habilidades.
Na pequena vila que ele nasceu, ninguém sabia como manejar bem uma espada.
O melhorzinho que tinha lá, era um mercenário de terceira categoria.
Ele havia perdido uma perna e foi parar na vila.
Foi ele quem ensinou as crianças da vila a usarem uma espada.
Entre eles estava Enkrid.
“Você é um gênio.”
Aos quinze, ele escutou essas palavras pela segunda vez.
Da primeira vez, foi de um adulto local que não sabia nada. No entanto dessa vez, isso veio de um mercenário que desistiu de seu título de cavaleiro e perdeu uma perna por uma dama.
‘Eu sou um gênio,’
Ele pensou.
Então ele se agarrou a um sonho.
Se tornar um cavaleiro.
Um cavaleiro que serviria a um monarca que poderia unificar o continente engolido pela guerra.
Um cavaleiro que acabaria com todas as guerras.
A essa altura, o som de um bardo já tinha se espalhado pelo continente.
E chegado a pequena vila que Enkrid vivia.
As palavras cantadas eram simples, mas a melodia era assustadora, e a letra final mexeu com seu coração.
O cavaleiro que irá acabar com essa guerra!
O cavaleiro que tingirá a guerra no crepúsculo!
Vamos chamá-lo de Cavaleiro do Crepúsculo!
Vamos chamá-lo de Cavaleiro Apocalipse!
O Cavaleiro do fim! O cavaleiro que terminará com o conflito!
O cavaleiro que trará o fim da guerra.
O som do bardo incendiou o coração de meninos e meninas.
‘Eu sou o escolhido.’
Enkrid também se sentia assim.
Aos dezoito, pensando que não havia ninguém que era páreo para ele na vila, Enkrid partiu.
Ele não tinha pais, nem irmãos.
Ele tinha alguns amigos, mas não havia muitos que podiam se conectar com Enkrid, que era fascinado por espadas desde criança.
Assim, depois de um tempo, o menino cresceu e foi embora.
E então começou sua vida de mercenário.
Suas habilidades não eram ruins. Sua atitude e seu trabalho duro também eram decentes.
Mas demorou apenas dois meses para ele perceber que ele não era nenhum gênio.
Derrotado por um mercenário de terceira categoria sem nome.
“Você ainda tem muito o que aprender.”
Foram as palavras que ele ouviu.
Ele pensou que ter um bom professor era o suficiente.
Ele guardou dinheiro. Trabalhou duro. Ele colocou sua vida em risco lutando contra bandidos.
Com o dinheiro que ele ganhou, ele foi para uma escola de esgrima.
Afinal, havia uma ou duas escolas de esgrimas nas cidades grandes.
Ele aprendeu a manejar uma espada.
E ele não teve azar.
Seu professor era honesto e meticuloso.
Ele, na verdade, pediu para Enkrid largar a espada.
“Não. Eu não vou.”
Mas Enkrid não podia desistir.
“Você é tão diligente, Enkrid. Você é mesmo dedicado.”
Todos aqueles que viam Enkrid diziam a mesma coisa.
Afinal, eles tinham que fazer isso.
Porque o trabalho duro não trai.
Suas mãos sangravam, e seus músculos dos braços doíam.
Mesmo assim, ele repetia tudo de novo e de novo.
Ele superou coisas onde outras pessoas teriam desistido.
Enkrid era extraordinariamente esforçado.
Coletando dinheiro aqui e ali para os centros de treinamento, antes de perceber, ele tinha passado dos vinte anos.
Lá pelos vinte e cinco anos, ele tinha experiencia e habilidades o suficiente para ter feito o seu nome como mercenário.
Mas o máximo que ele conseguia, e somente depois de pedir algumas vezes em uma cidade pequena, era alguém dizendo, “Oh, aquele cara, ele sabe como usar uma espada.”
Até aquele fatídico dia, ele tinha um vislumbre de esperança.
Esperança de que as coisas melhorariam.
E então chegou a primavera quando ele tinha vinte sete.
Só então Enkrid percebeu que seu talento não era motivo de orgulho.
E isso foi o resultado de uma partida de treino.
Em cinco movimentos, a espada que ele segurava voou de sua mão e outra foi cravada em seu estômago. Enquanto Enkrid pressionava a mão contra o ferimento, ele perguntou.
“Qual a sua idade?”
“Doze.”
Doze, ele nem era um adulto ainda.
Esse sim era um verdadeiro gênio.
“Desculpa, esse foi meu primeiro treino.”
Disse o pequeno. Ele era apenas uma criança, nem nobre e nem plebeu, mas filho de um camponês.
E ele só tinha empunhado uma espada por metade de um ano.
“Você foi muito descuidado. Aqui, pegue esse dinheiro para as despesas médicas.”
A professora do menino jogou um saco de dinheiro para ele.
Seus ferimentos não eram fatais.
O ferimento não foi tão profundo, então seus órgãos internos não foram danificados.
Ainda assim, ele pegou o dinheiro.
Desde os onze anos até agora, por dezesseis anos, ele tem usado sua espada até suas mãos sangrarem.
Mesmo assim. Ele tinha perdido para um garoto de doze anos, que treinou somente por seis meses.
Ele estaria mentido se dissesse que ele não estava deprimido.
Mas isso não significava que ele carregaria essas emoções negativas com ele.
Não tinha motivos para viver uma vida sombria e triste.
“Não é como se eu tivesse perdido um membro.”
Enkrid sabia que ele não era um gênio, mas isso não significava que ele tinha que desistir.
Então ele retomou sua vida como espadachim.
Ele passou uma década como mercenário.
Mesmo se ele não conseguisse se tornar um grande cavaleiro ou espadachim, ele poderia ao menos ser um soldado experiente.
Então Enkrid deixou a vida de mercenário e iniciou o treinamento militar. Era a melhor decisão que ele podia tomar.
Ele não podia voltar para a lavoura agora.
Um espadachim de terceira categoria com um passado de mercenário, era um título apropriado para ele.
“Você acha que o exército é brincadeira, eles não pegam qualquer um.”
Alguns zombavam.
“Aguente firme.”
Outros davam tapinhas em seu ombro.
Ele recebeu conhecimento, mas também foi deixado para trás.
E então, aos trinta anos.
No Reino de Naurilia, Legião Cipriana.
Composto por quatro regimentos, quatro batalhões, quatro companhias e quatro pelotões.
O chamado Quarto Pelotão foi onde Enkrid foi colocado.
Logo abaixo do comandante do pelotão, no posto de sargento, essa era a posição de Enkrid.
Clang, Clang, Clang.
O guarda bateu com a concha de ferro, acordando todo o quartel.
“…Que sonho mais horrível.”
Enkrid resmungou ao acordar com o barulho.
“Que tipo de sonho você teve para falar algo assim?”
Perguntou o soldado ao lado dele, que estava se levantando de sua cama feita de camadas de tecidos de algodão, enquanto calçava suas botas.
Apesar de seu comportamento rude, era um sujeito melhor do que parecia.
“Minha vida inteira.”
“Que sinistro hem. Ah, uma barata.”
Tinha uma barata em sua bota, então ele a tirou, sacudiu e colocou de volta.
Então, quando viu a barata no chão, cuspiu e pisou nela.
Um rastro de fluidos corporais da baratae cuspe foi deixado no chão.
Vendo isso, Enkrid levantou e pegou seu equipamento.
Uma couraça que tinha uma faca de arremesso perto de seu peito, manoplas para proteger seus braços e caneleiras.
Por baixo de tudo isso, ele usava uma armadura interna feita de grossas camadas de tecido.
Por cima disso, ele usava uma armadura feita de couro.
E, embora feita de muitas camadas de couro, era um couro fraco.
Uma lâmina bem afiada poderia cortar através dela facilmente.
Suas braçadeiras, feitas de madeira oleada, eram ligeiramente melhores que o resto.
“Eu ouvi dizer que o líder do esquadrão anterior teve um sonho parecido antes de morrer.”
Enkrid murmurou, lembrando de também ter ouvido esses rumores.
“Eu estou destinado a morrer hoje?”
O soldado riu, então Enkrid lhe deu um tapa na nuca.
“Eu não vou morrer. Não me azare.”
Ele se levantou, colocou água em uma panela junto com algumas fatias de carne seca. Então acrescentou mais alguns vegetais e deixou ferver.
Esse seria o seu café da manhã.
“Nós temos algum plano de batalha para hoje?”
O soldado ao seu lado perguntou. Enkrid apenas balançou a cabeça.
“Eu não sei.”
Ele era apenas um simples sargento de um esquadrão.
Acima dele estava um líder de pelotão que comandava os 4 sargentos de esquadrão.
Até mesmo o líder do pelotão provavelmente não sabia de nada.
Enkrid estava estagnado como sargento de esquadrão por causa de sua esgrima medíocre e pelo fato de não ser um nobre. Mas a experiencia em campo de batalha que ele ganhou era algo que nem mesmo muitos comandantes de companhia podiam negligenciar.
Sabendo disso, seus subordinados o respeitavam.
“Então, quando era criança, o que você queria ser quando crescesse?”
Seu subordinado perguntou, se aproximando dele.
“Um cavaleiro.”
“…Vai me bater se eu rir?”
“Eu não vou bater em você.”
“Pfft.”
“Mas eu não disse que não iria chutar você, seu idiota.”
Enquanto falava, ele o chutou na bunda.
O subordinado, fingindo que estava doendo, disse:
“Mas tipo, um cavaleiro, sério?”
O que era um cavaleiro?
Para ele, eles eram entidades que mudavam o rumo de batalhas.
Um monstro que podia lutar sozinho contra milhares de inimigos.
Um herói que poderia sozinho matar centenas de inimigos.
Não era de se surpreender que sua unidade ou divisão atual tenha o nome de um cavaleiro.
A Legião Cipriana, o exército do Cavaleiro Cipriano.
O sonho de ser um cavaleiro assim.
“Seus sonhos são realmente fascinantes, né.”
“Sonhos são pra ser fascinantes, garoto.”
Enquanto falava, Enkrid recolhia as tigelas usadas com indiferença.
Era ele que lavava a louça hoje.
Ele não sabia como isso era feito nos outros esquadrões, mas no seu, todas as tarefas eram divididas igualmente.
Ser um sargento de esquadrão era apenas receber e entregar ordens.
Essa posição, afinal, era dada para aqueles que eram melhores com a lança ou a espada.
Nesse sentido, Enkrid era um pouco especial.
Sua força física era um pouco menor que os outros membros do esquadrão.
Mas ele foi capaz de reunir um grupo de pessoas que foram rejeitadas pelos outros esquadrões.
O esquadrão de Enkrid, como os outros chamava, era o Esquadrão Suicida.
Um esquadrão suicida do pelotão “Quatro por Quatro”, conhecido pela forma como resolviam os “problemas”.
Enkrid era o líder de tal esquadrão.
“Me deixe te ajudar.”
“Então cala a boca e me segue.”
“Entendido.”
Seu subordinado riu.
Como esse cara chegou aqui?
Ele era peculiar, mas Enkrid não estava particularmente curioso sobre a história do homem.
Então ele não perguntou.
Seus companheiros de esquadrão gostavam dessa atitude.
Ele não fazia perguntas sobre seus passados, nem questionava seu presente.
Ele não perguntava nada em particular.
Talvez fosse por isso que todos os membros do esquadrão o seguiam.
Enquanto lavava as tigelas barulhentas, seu subordinado olhou por além da beira do riacho e perguntou.
“Por que você queria se tornar um cavaleiro?”
Ele se ofereceu para ajudar, mas acabou só olhando.
Ele iria rir se Enkrid lhe dissesse que se apaixonou pelas canções dos bardos?
Enkrid pensou por um momento antes de responder.
“Eu queria ser bom com a espada, e eu pensei que seria bom ser um cavaleiro.”
“Esses são desejos de um garoto jovenzinho.”
Seu subordinado riu novamente.
“Eu disse para calar a boca.”
“É por isso que você fica dançando com sua espada toda manhã e noite?”
“É porque o trabalho duro não trai você.”
Suas mãos estavam calejadas pelos inúmeros golpes que ele deu sua vida.
“E agora?”
Ele ainda queria ser um cavaleiro?
Ele sabia melhor que ninguém que isso era impossível.
Mas ele não iria desistir.
Ele apenas suportou e seguiu em frente.
Enkrid não estava alheio à realidade.
Mas seus sonhos foram silenciados pela realidade, e ele se tornou um soldado que vivia de sua espada.
“Se você terminou, vamos embora.”
“Claro.”
Isso foi uma conversa casual.
Eles se levantaram e seguiram para as barracas.
Seja porque havia uma guerra regional acontecendo no reino.
Ou talvez um novo grupo de bandidos os tenha atacado por causa dos suprimentos.
Ele não sabia o porquê, mas,
‘O ar está denso hoje.’
O ar no campo de batalha sempre foi assim.
Mas hoje, parecia pior.
Bem, tudo que ele podia fazer era esperar.
Não tinha muito o que ele fazer. Ele pensou em balançar sua espada um pouco, mas tirou uma soneca em vez disso.
Tinha dias como hoje em que ele não queria fazer nada.
‘Não é tão fácil como era antes.’
Ele havia tentado, tentado e tentado.
E esses foram os resultados.
Tornou-se um mercenário de terceira categoria.
O sol estava apenas à uma distância de dois braços de comprimento a oeste de seu horizonte no céu, quando o líder do seu pelotão gritou.
“Todos os quatro esquadrões, reúnam-se.”
Haveria uma batalha.
Os esquadrões se reuniram para formar um exército.
O esquadrão de Enkrid não foi exceção.
Um arrepio percorreu suas costas.
Enkrid apertou o amuleto no colar que havia adquirido quando era um mercenário, e depois o colocou de volta nas roupas.
‘Eles não disseram que isso salvaria minha vida um dia?’
Provavelmente era besteira, mas um soldado no campo de batalha era propenso a acreditar em superstições.
Mas se alguém perguntasse ao Enkrid se ele acreditava no amuleto, ele provavelmente diria que não.
Ele apenas viu a expressão nos olhos da velha quando ela lhe deu o presente, e a sinceridade na voz dela o comoveu.
‘Afinal de contas, não havia nada a perder.’
Este amuleto foi a única recompensa que ele recebeu por travar uma batalha até a morte.
Ele só ganhou por que acabou tendo sorte. Se as coisas tivessem dado um pouquinho errado, ele teria morrido nesse dia.
Foi uma luta difícil.
Era uma missão perigosa de extermínio de monstro, mas como era uma aldeia pequena e destruída, eles não tinham dinheiro para pagar.
Eles viram Enkrid passando na estrada, e grudaram em suas pernas, implorando para que ele desse um fim ao demônio.
‘Isso é ridículo.’
Ter arriscado sua vida por causa de sua compaixão, aquilo foi loucura.
Mas Enkrid não se arrependia disso.
Porque isso era o que um cavaleiro faria.
Mesmo que seus sonhos muitas vezes foram silenciados pela realidade, devorados e despedaçados, ainda assim eles deixaram uma marca.
Ele queria ser um cavaleiro.
Ele queria ser um herói de guerra.
Mas agora, ele era apenas um soldado.
Viva!
Gritos de guerra explodiram.
Enkrid gritou com eles também, um nó se formou em sua garganta.
Uma onda de tropas avançou em sua direção pela frente.
O lento pôr do sol criou um crepúsculo duradouro.
Contra o sol poente, ambos os exércitos atacaram.
Enkrid também avançou.
“Vamos lutar arriscando nossas vidas!”
Gritando com seu rosto sempre sorridente, um de seus subordinados avançou primeiro.
Logo, as lanças e espadas, tanto dos inimigos quanto dos aliados, cortaram a carne e o sangue uns dos outros.
A batalha de hoje foi um corpo a corpo caótico.
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