Capítulo 03
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[Hunters scan]
Capítulo 03 – Um dia
Tradutor: Kenny
Revisor: Sushine
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Um dia igual ontem.
‘Foi um sonho?’
Era vívido demais para ser um sonho, não era?
Ele ficou pasmo. Quer tenha sido um sonho ou realidade, ele enfrentou o campo de batalha depois de passar um dia inteiro semelhante ao de ontem.
Além disso, era uma luta corpo a corpo. Lutar em uma posição semelhante à de antes, fazia com que tudo parecesse uma sobreposição de ilusões se refletindo.
‘Isso também não aconteceu ontem?’
Ele parou no meio do pensamento e balançou a cabeça.
Deve ter sido um sonho.
Ele teve sorte de ter tido um sonho de premonição?
‘Seria certo considerar que ter sonhos de premonição é uma sorte?’
Ele não sabia. É impossível saber agora.
Enkrid estava confuso.
Especialmente quando o escudo oleado se partiu.
“Droga, quase fui morto.”
Quando Bell disse isso, pareceu ainda mais real.
“Bell, sua cabeça se abriu e fez você perder o cérebro?”
Ele cuspiu as palavras que lembrou por reflexo.
“Que diabos você está falando?”
Bell ficou de pé. Enkrid olhou para Bell e pensou.
Bell vai morrer em breve.
Ele deveria apenas assistir isso acontecer?
Ele assistiu.
Parecia irreal, então ele deixou acontecer.
Um flash abriu a cabeça de Bell, seu globo ocular voou e atingiu o peito de Enkrid novamente.
“Se você perder o foco, o que planeja fazer?”
Rem o salvou novamente.
“O que?”
“Você já perdeu então, não é?”
Rem girou o dedo em volta da orelha. Ele podia ver o machado em sua mão.
“Algum bastardo com olhos de falcão e penas ou algo assim veio para esta batalha, então eu preciso dar um jeito nele. Nossa, você é tão preocupante que sinto que você pode morrer a qualquer momento.”
“Preocupe-se com você mesmo.”
Retruquei reflexivamente e Rem se afastou perplexo balançando a cabeça.
“Vai se focar, não é? Você nunca escuta.”
Resmungando para si mesmo, Rem saiu.
Ele ficou no campo de batalha, pegando então um machado que havia caído no chão com a mão esquerda e segurando uma espada com a direita. Parecia desconfortável.
E então, ele suportou.
Um soldado inimigo diminuiu a distância à sua frente. Aconteceu tudo em um instante – ele sabia bem como usar os pés. Havia um mestre de esgrima que costumava dizer algo assim. Sete décimos da esgrima estavam nos pés, não é?
Quando a lâmina passou sobre sua visão, Enkrid mais uma vez enfrentou o momento da morte.
Naquele fatídico momento, em um surto de concentração, ele percebeu um ponto. O ponto encolheu e depois cresceu rapidamente. Enkrid assistiu até o fim, até que o ponto se transformou em uma lâmina perfurando seu pescoço.
“Ah.”
Nenhum grito ou gemido saiu. Sua garganta foi perfurada. Apenas o som do ar escapando podia ser ouvido de sua garganta. Uma dor excruciante se espalhou de sua garganta para todo o corpo. Enkrid apertou a garganta e caiu no chão. O sangue jorrou abundantemente.
“Serei misericordioso.”
O soldado inimigo observou por um momento e depois enfiou a ponta da espada na cabeça dele.
A escuridão veio novamente.
E Enkrid ouviu de novo.
Clang, clang, clang.
O som da concha batendo em uma panela.
“Eu queria saber por que seus olhos estão assim desde manhã.”
Rem estava ao lado dele, segurando suas botas.
Era um outro dia. O mesmo dia.
‘Foi um sonho?’
“Você teve um sonho de merda ou algo assim?”
“Certo, foi apenas um sonho?”
“Ah, ah, um inseto.”
Rem tirou um inseto da bota, cuspiu e pisou nele.
Foi a terceira vez que ele viu essa cena.
Enkrid não calçou as botas nem o equipamento. Ele apenas ficou lá sentado, inexpressivo.
‘Isso deveria ser um sonho?’
O dia recomeçou de novo.
Bell morreu, e Rem o salvou.
Rem saiu em busca de um arqueiro que tinha um apelido relacionado a alguma parte do corpo de uma águia.
Um soldado inimigo, bom com a espada, bloqueou seu caminho.
“O que é você?”
Enkrid perguntou.
O inimigo não respondeu, apenas atacou com sua espada. A estocada foi tão admirável como sempre, toda vez que ele a via.
Thump.
Seu coração batia forte e sua concentração aumentou. Enkrid pode ver a ponta da espada com mais clareza do que antes. Ele torceu o corpo para evitá-la.
Creak!
O resultado não foi muito bom. O golpe elegante não perfurou o pescoço de Enkrid, mas abriu um corte grande ao lado dele. Uma dor ardente se espalhou do pescoço para todo o corpo. Ele caiu no chão novamente.
O sangue estava derramando.
“Serei misericordioso.”
A espada desceu em direção à sua cabeça.
Clang, clang, clang!
“Ah!”
Ele acordou gritando.
A dor era real. Enkrid esfregou o pescoço.
“Um pesadelo? Uma bruxa tirou sua virgindade ou algo assim?”
Rem fez uma piada ridícula.
“Tem um inseto na sua bota.”
Enkrid cobriu metade do rosto com a mão e disse.
A dor de morrer era uma coisa, mas ele não conseguia entender o que estava acontecendo.
“O que? Como você sabia?”
Rem jogou o inseto da bota no chão, e então cuspiu e pisou nele.
“Eu só sabia.”
“Você é um profeta?”
“Não.”
Ele acenou com a mão enquanto falava.
Enkrid estava prestes a sair depois de se preparar, mas parou.
“Rem.”
“Qual o problema?”
“Minha cabeça dói muito. Cuidem da comida e se alguém me procurar digam que estou passando mal no quartel.”
“Claro, se você quer relaxar tanto assim.”
Rem riu. Ele era um amigo com uma risada calorosa.
Se isso não for um sonho.
Se for algo que se repete após a morte.
Isso é possível? Uma coisa assim pode mesmo acontecer?
Enkrid precisava de tempo para pensar.
Ele voltou para o quartel, tirou o equipamento e sentou-se. Ele pensou e pensou novamente. Como isso pode acontecer?
‘Por que isso está acontecendo?’
Ele se lembrou de algo e vasculhou os bolsos. Não estava lá. O colar que ele recebeu da chefe da aldeia queimada e destruída dos agricultores, tinha sumido.
‘Seria por causa daquilo?’
Uma vontade? Um desejo?
‘Uma benção?’
Não, isso pode ser chamado de benção?
É apenas o dia se repetindo.
Mesmo que se trate de bençãos, ou dos chamados Artefatos Abençoados. Enkrid já tinha ouvido falar deles, mas nunca viu tal coisa em primeira mão.
‘Isso não é mais uma maldição do que uma benção?’
Pensando, Enkrid passou a mão pelo seu pescoço.
Doía terrivelmente. Doía demais toda vez que ele morria. Sua cabeça parecia prestes a explodir com pensamentos complexos.
Depois do almoço, Rem chegou com comida.
“O que há de errado? Você tá mesmo relaxando?”
Ele parecia sugerir que esse não era o caso. Enkrid era conhecido como um trabalhador esforçado por aqui.
“Sim.”
“Sério?”
Enkrid assentiu duas vezes.
“Bem, isso é incomum. Nesse caso, descanse. Há uma batalha no final da tarde, então descanse bem até lá. Eu darei cobertura para você, então se recomponha.”
Rem saiu.
O tempo passou. Os pensamentos de Enkrid não conseguiram se organizar. Esse não era o tipo de coisa que poderia ser resolvida apenas pensando sobre isso.
Ahhh!
Gritos foram ouvidos. O chão tremeu. A batalha havia começado. Enkrid não tinha intenção de sair. Se ele saísse, ele morreria por causa daquela estocada.
E então, ele tentou resistir.
Mas ele não poderia fazer isso para sempre. Não era certo afastar-se do campo de batalha só porque ele era um soldado em repouso que estava se sentindo mal.
“Todos, preparem-se e saiam! Chegou a hora de lutar!”
Havia um sentinela patrulhando dentro do quartel. Enkrid se equipou com seu equipamento e saiu.
Ele lutou novamente.
Desta vez, ele lutou muito atrás de onde estava ontem. Nem Bell e nem Rem estavam a vista enquanto ele lutava.
De repente, as linhas de frente ficaram em desordem. O movimento do inimigo era incomum. As forças aliadas estavam sendo empurradas para trás.
Antes que ele percebesse, Enkrid estava na linha de frente.
E então, ele encontrou aquele cara novamente.
Foi uma coincidência ou isso era inevitável?
Ele não sabia, mas era certo que onde quer que ele fosse no campo de batalha, ou ele morreria ou encontraria esse cara.
Então não se tratava mais de ‘por que’, mas de ‘como’.
Como sobreviver, e não por que eles se encontravam.
Uma estocada veio.
A lâmina veio voando.
‘Qual era o nome dessa técnica?’
Certa vez, Rem lhe disse para se concentrar na técnica, dizendo que saber exatamente isso iria impedir que você morresse facilmente no campo de batalha.
Ele também disse que mesmo se você estiver preso na cova de um monstro, você precisa recuperar o fôlego com calma.
O que Enkrid estava tentando agora era algo que Rem tinha lhe ensinado. Algo sobre o coração.
O nome pairava sob seus pensamentos, estava quase ao alcance, mas ao mesmo tempo não.
Essa habilidade, cujo nome ele nem lembrava, brilhou mais uma vez. Enkrid percebeu que estava prendendo a respiração enquanto observava a lâmina.
Thump.
Seu coração batia forte. Ele viu o momento e o ângulo em que a lâmina iria perfurar seu pescoço.
Ele se jogou para o lado e rolou no chão de uma maneira bastante feia, mas sobreviveu.
No entanto, a alegria durou pouco.
Thump!
Ocorreu uma pancada na sua nuca seguida de uma dor insuportável. Sua cabeça estava dormente. Ele nem percebeu que havia caído no chão.
Outro soldado inimigo acertou seu capacete por trás com um machado.
Depois de ser atingido, enquanto ele olhava atordoado.
“Serei misericordioso.”
O desgraçado mergulhou a lâmina nele novamente com o golpe.
Thump.
Clang, clang, clang!
Seus olhos se abriram mais uma vez.
O dia se repetiu novamente.
‘Não pense nisso.’
Se o colar foi uma benção ou uma maldição, não pense nisso. Não pense no que está acontecendo também.
Há apenas duas coisas em que pensar agora.
Sobreviver no campo de batalha.
E fazer o que for preciso para isso.
“Tem um inseto na sua bota.”
“Huh? Um profeta?”
“O que era aquela coisa? Aquela que você tentou me ensinar antes.”
Pisca, pisca.
Rem piscou e disse:
“Coração da Besta?”
Isso mesmo. Esse era o nome.
Coração da Besta.
Como poderia um mero coração humano manter os olhos bem abertos em um campo de batalha por onde voam lanças, espadas e machados?
Se você abriga o Coração da Besta, você consegue fazer isso, então faça.
Lembrei-me do que Rem havia dito.
“Me ensine de novo.”
“Huh?”
Rem ficou pasmo.
Ele entendia Rem.
Certa vez, ele queria desesperadamente aprender e, encantado com seu entusiasmo, Rem concordou ansiosamente em lhe ensinar.
No final, Enkrid não aprendeu nada e Rem não ensinou nada. Não fechar os olhos em um piscar de um instante era a base do treinamento. Mas manter os olhos abertos até a beira da morte não era algo que pudesse ser feito com simples coragem.
Não se tratava apenas de manter os olhos abertos.
Na opinião de Enkrid, as habilidades de Rem eram melhores do que as de um mercenário médio de primeira linha.
A essência de seu treinamento era observar e desviar do machado até quase partir seu crânio.
“Vamos fazer isso, treinando.”
A paixão acendeu nos olhos de Enkrid. Uma chama se acendeu em seu coração.
‘Precisamos mesmo diferenciar entre uma benção e uma maldição?’
Ele sabia que não tinha talento. E o tempo era o mesmo para todos.
Portanto, um tolo não poderia vencer um gênio.
Mas e se o tempo não fosse o mesmo?
Mesmo que fosse uma maldição, era como uma corda. Uma corda para seguir em frente.
“Tudo bem. Tenho me sentido como um cachorro que perdeu seu osso ultimamente, mas ver você com tanta energia hoje, também me dá forças.”
Rem se levantou e disse:
“Vamos começar logo depois do café da manhã.”
“Certo então”
Depois de tomar o café da manhã, lavar a louça e trocar palavras ridículas sobre os sonhos de ser um cavaleiro, Rem riu disso.
E então chegou a hora da aula.
“Você esqueceu o método de treinamento?”
“De jeito nenhum.”
Tinha sido tão impressionante que Enkrid teve até pesadelos por causa do treinamento de Rem. Pesadelos sobre aquele maldito machado cortando seu pescoço.
“Vamos.”
A essência do treinamento era simples.
Quando o machado apontar para decapitar, mantenha os olhos bem abertos e desvie. Se Rem cometesse um erro, Enkrid morreria.
Originalmente, o medo o impediu de fazer isso da forma certa. Mas agora a situação era um pouco diferente.
“Mesmo se eu morrer, será apenas aquele clang, clang, clang de novo.”
Era hora de perder todo o medo. A concentração que ele aprendeu desde a primeira morte, despertando o Coração da Besta.
O coração de Enkrid começou a bater. O batimento assustado se acalmou. Uma besta não se assusta facilmente. O batimento lento trouxe calma.
Calmaria, o núcleo do Coração da Besta. Uma mente calma capta a trajetória da lâmina do machado. Treinando para controlar o corpo, ele fez isso sem parar.
Observar a trajetória e esquivar não foi difícil.
A lâmina do machado cortou o ar. Enkrid cronometrou, recuou com o pé direito e puxou o corpo para trás.
O machado passou na frente dele.
“…Você treinou secretamente?”
Rem perguntou.
“Um pouco.”
“Bom, bom. Mas seu timing foi um pouco adiantado agora. Você tem que se esquivar no último segundo.”
Ele estava treinando para engrossar a pele do coração.
Rem balançou o machado.
Enkrid esperou até o momento em que o machado parecesse prestes a cortar seu pescoço e então se esquivou.
“Uau, mesmo em nossa tribo, apenas alguns conseguiram aprender a fazer isso. É incrível.”
O treino matinal terminou. Rem deu um tapinha no ombro de Enkrid.
“Muito bem. Com esse nível, você pode lidar com os desajeitados em um combate real.”
“E aqueles que não são desajeitados?”
“O que você quer dizer?”
“O que aconteceria se eu encontrasse uma pessoa assim?”
“Você está perguntando por que não sabe?”
Vendo o olhar de Enkrid, Rem continuou. Seus olhos pareciam dizer: “Por que você está assim hoje?”
“Fuja.”
Sim, escapar.
É uma loucura enfrentar de frente um oponente mais forte no campo de batalha. Enkrid sobreviveu até agora porque era observador e conhecia seu lugar.
E agora,
“Não seria melhor praticar contra um adversário não tão desajeitado?”
“Se você treinasse assim, mesmo cem vidas não seriam suficientes.”
Rem riu. Ao ouvir sua risada, Enkrid pensou,
Era como se ele tivesse acabado de ganhar centenas de vidas.
Seja isso uma benção ou uma maldição.
‘Se isso pode ser usado, então use.’
Foi assim que Enkrid viveu até agora. Tendo vivido assim, esse era o plano até mesmo agora.
Para enfrentar aquela estocada.
Esse era o plano. Ele não foi um bom parceiro de treino? A dor da morte foi terrível, mas a recompensa era igualmente grande.
Enkrid sentiu a alegria do crescimento pela primeira vez em anos.
Uma satisfação que encheu seu coração até a borda.
Uma sensação de realização incomparável, até mesmo com as drogas.
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[Hunters scan]
Capítulo 03 – Um dia
Tradutor: Kenny
Revisor: Sushine
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